Testemunho de como me livrei de mais de 25 anos de vício em drogas


"E, entrando ele no barco, rogava-lhe o que fora endemoninhado que o deixasse estar com ele. Jesus, porém, não lho permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão grandes coisas o SENHOR te fez, e como teve misericórdia de ti".

Demorei mais do que o recomendado para publicar o meu testemunho aqui neste blog. Porque há algum tempo sou incomodado pelo Espírito Santo para anunciar quão grandes coisas o Senhor fez e ainda vem fazendo por mim. Conforme fez com o endemoniado gadareno do texto bíblico em Marcos 5:1-20. Tenho a plena convicção de que o Senhor foi misericordioso comigo e me permitiu ser livre da opressão demoníaca que me escravizava há muitos anos.

Vamos aos fatos. Fui dependente químico durante mais da metade dos meus 40 anos. Em boa parte destes 25 anos de vício, descartava a possibilidade de me ver como viciado, apesar de a realidade insistir em me desmentir. Desde os meus 15 para 16 anos comecei beber, a usar maconha, pasta de cocaína, cocaína, clorofórmio, xarope em doses alucinógenas, LSD e até óxi para me drogar. Deste arsenal do demônio, usei por mais tempo a maconha, seguido da cocaína em pó. Não preciso detalhar as muitas coisas que perdi em decorrência do vício, mas foram demasiadas, bem mais que o bastante.

Cheguei ao ponto de considerar a maconha como algo de Deus, como fazem os rastafaris ou praticantes de outras seitas similares. Ledo engano. A maconha em mim teve o poder de mediocrizar uma mente fértil e transformar toda a minha sede por conhecimento numa visível preguiça intelectual. Fiquei com uma mente hiperativa, mas incapaz de ficar concentrada durante muito tempo numa coisa. Ponto. Feliz daquele que reconhece seus defeitos e busca a cura de seus males.

Como quase todo mundo, usei as drogas atrás de uma nova dimensão na consciência, buscando uma espécie de eldorado da contracultura que imaginava estar esperando aquele que ousasse romper com o status quo. Inocência de um coração vulnerável. Fui fisgado e cai na armadilha de satanás que sempre rondou minha vida por meio de crenças estranhas de meu pai e da minha vó. Não entrarei neste pormenor agora, mas voltarei a falar nisso em outra hora.



O texto de Marcos sobre o endemoniado gadareno que se repete em Lucas (8:26-39) e Mateus (8:28-34) é base para a minha reflexão e meu testemunho porque um viciado em muito se assemelha a esse personagem bíblico. Ele é um retrato grotesco do que os demônios (e as drogas também) fazem com os seres humanos. O gadareno não habitava mais em casa, mas em um cemitério (Mc 5:3) e era impelido pelos demônios para a solidão do deserto (Lc 8:29). Mais ou menos como os drogados que saem de casa movidos por uma sede demoníaca por autodestruição e buscam a solidão de um submundo violento, relacionando-se com pessoas que lucram com a perdição alheia.

O texto em Marcos também nos revela que o gadareno tornou-se um ser anti-social e violento (Mc 5:4), vivendo inquieto e ansioso, andando de um lado para o outro numa angústia sem tréguas (Mc 5:5). Ele passou a não apreciar e nem a valorizar mais a própria vida. Perdeu o pudor e, sem nenhum respeito próprio, andava sem roupas (Lc 8.27). Com um espírito autodestrutivo, feria-se a com pedras (Mc 5:5). Essa ilustração por si só mostra-nos o comportamento de um viciado.

De certo modo, também ficava assim, principalmente quando utilizava dos derivados de cocaína. Quantas e quantas vezes me vi andando de um lado para o outro no meu quarto tal uma fera enjaulada, sem ao menos poder sentar, diante do estado de paranóia, excitação e ansiedade. Muito triste. E pior. Expondo meus filhos a esta realidade porque tal qual o gadareno, o viciado endemoniado perde o respeito próprio e passa a "andar sem roupas". Triste. Alguns amigos ainda têm na memória a cena de me ver obcecado, imaginando aranhas a caminhar pelo meu corpo. Obsessão paranoide de uma mente carcomida e purulenta. Os demônios usam as drogas para comer, tal um parasita, a nossa mente. É impressionante e triste. Muitos ficam loucos, outros guardam sequelas.



Mas até mesmo os demônios reconhecem Aquele que detém todo poder e toda a autoridade. Os três textos bíblicos mostram que o endemoniado gadareno prostou-se diante dos pés de Jesus logo que o viu. Mesmo sem razão, entregue à possessão demoníaca, o gadareno adorou o Senhor quando vislumbrou a beleza de Sua Santidade. O gadareno era habitado por uma legião de demônios que clamaram a Jesus por misericórdia. Uma legião romana naquela época era formada por aproximadamente 5.000 mil homens. Naquele dia, a legião pediu permissão ao Mestre para entrar numa manada de aproximadamente 2.000 porcos que pastava naquela colina. E os porcos todos se precipitaram no abismo. Texto carregado de simbolismo. Porcos e abismo, tudo a ver com as drogas.

Tal qual o endemoniado gadareno, um viciado como eu, pode se libertar de qualquer possessão demoníaca que lhe escraviza a viver aquilo que até mesmo ele reconhece não ser bom e saudável. Para isso, não é necessário nenhum tipo de merecimento. Basta crer e vislumbrar a beleza da santidade de Cristo. Porque por Jesus fomos justificados, pela sua graça, mas por nossa escolha somos santificados para andar com Ele, da forma que o Senhor quer. E por isso estou aqui. Anunciando quão grandes coisas Jesus fez por mim. Hoje estou livre das drogas, mas sei que preciso manter a comunhão diária com Ele para estar armado nesta batalha espiritual que se dará até o último dia da minha vida. E levarei meu testemunho para ajudar outros que se encontram na mesma luta.

Voltando ainda ao texto sobre o endemoniado gadareno, ainda podemos aprender a lição daquele povo que expulsou o formoso Mestre pelo fato de sua iniciativa salvífica ter gerado um prejuízo de dois mil porcos perdidos no mar. Ou seja, para aquele povo, dois mil porcos valiam mais do uma vida humana. Mais ou menos como acontece hoje em territórios como a cracolândia, em São Paulo, ou em rodas dos chamados "pés inchados" ou zonas vermelhas em Manaus. Para o poder público, é melhor garantir os porcos vivos do que investir na recuperação de pessoas escravizadas pelos seus vícios.


Para encerrar, uma palavra confortante.

"Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais.Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes.Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; E calçados os pés na preparação do evangelho da paz; Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno.Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos".
Efésios 6:12-18