Avivamento ou êxtase?
Desde há muito, a palavra avivamento tem lugar de destaque no meio evangélico, como uma meta pretendida por muitas denominações inspiradas no denominado reavivamento da rua Azusa, em Los Angeles, Califórnia, entre 1906 e 1915. Inspiração que fez (faz) muitos avançarem do pentecostalismo para um neopentecostalismo carregado de sinais, milagres, maravilhas, poderes e mistérios sobrenaturais.
Tudo por um avivamento. Vigílias, subidas no monte, orações de guerra, batalha espiritual, campanhas, jejuns, encontros com Deus, desafios ($$) proféticos e todo tipo de invencionices "ungidas" como toalinhas, tijolinhos e outros. Tudo por um avivamento. Ou seria tudo por uma sensação de êxtase espiritual? Por uma percepção sobrenatural que confirmasse a experimentação de algo atribuído do Senhor?
Trago essa reflexão depois de muito meditar sobre esse tema. Percebo nessa busca por avivamento algo de espírito do paganismo que insiste em permanecer em muitos crentes que não se conformam e nem se contentam com o Evangelho puro e simples. Que não sabem esperar o tempo de Deus, kairós, mas buscam um imediatismo arriscado para as respostas às suas angústias.
Que esperam uma experiência sobrenatural, atribuída ao Espírito Santo. Exatamente como os pagãos sempre fizeram na busca pela divindade num estágio de percepção extrassensorial, muito além da mente em sua fase de normalidade.
Esse é o padrão do transe profético dos indígenas que inalam o paricá e alcançam visões de espíritos da natureza. Foram assim também os efeitos das inalações do vapor respirado por Pítia a sacerdotisa de Apolo do oráculo de Delfos ou e as experiências de possessão do culto de Dionísio e, por extensão, praticamente todas as religiões pagãs.
Alguns hoje também apelam para o uso de enteógenos a fim de alcançar êxtases "divinais", como os xamãs e os adeptos da ayahuasca. Outros, como os muçulmanos adeptos do sufismo utilizam danças rituais (giros) para alcançar a percepção de Deus, como nos cultos afrodescendentes para a manifestação das chamadas entidades. Tudo pelo êxtase. Tudo por um avivamento.
Essa minha reflexão tem a ver com aquela antiga questão, muito difundida pelos pentecostais, sobre o chamado batismo com o Espírito Santo, que teria como prova pública o dom de falar em línguas. Nesta ênfase na busca por essa experiência sensorial com o divino, muitos mergulhavam, ou mergulham ainda, em jejuns, vigílias, encontros com Deus e outras iniciativas para alcançar, meio que na força, uma sensação sobrenatural no relacionamento com o Senhor. Em busca do êxtase e não de um avivamento genuíno. Até mesmo porque o dom de línguas atualmente está muito mais para a manifestação de um êxtase psicossomático, com o uso de expressões inteligíveis, do que algo vindo de Deus para um propósito particular. Onde está a mensagem? A edificação? Isso serve para a glória de Deus?
Não vou me estender muito nessa primeira postagem, mas volto para desdobrar o tema em outras abordagens. O importante é perceber que muito mais necessário do que sentir arrepios, tremeliques e outros fenômenos sensoriais atribuídos a uma pseudounção é compreender a regeneração que o Espírito Santo promove nos crentes genuínos por meio da manifestação do fruto do espírito em suas vidas. Amor, paz, alegria, paciência, bondade, amabilidade, fidelidade, mansidão e domínio próprio. A consciência do pecado, da conversão genuína, que nos leva a viver uma vida de santidade, constrangidos pela graça e pelo amor de Jesus.
Fazendo uma analogia com uma pessoa obesa "de pecados". Não adianta apelar para lipoaspiração, redução do estômago ou outras técnicas imediatistas para alcançar o peso ideal (de santidade). O correto, recomendado pelos médicos (apóstolos e evangelistas comprometidos com o Reino), é a mudança na alimentação (palavra de Deus em lugar de novelas, por exemplo) e na qualidade de vida (exercitar a paciência e a fidelidade e rejeitar a impureza sexual) , um processo lento, mas consistente e com resultados bem mais duradores.
Espero ter conseguido, com a graça de Deus, expor a mensagem aos leitores. Para encerrar, uma palavra para reflexão:
"Pois, enquanto estamos nesta casa, gememos e nos angustiamos, porque não queremos ser despidos, mas revestidos da nossa habitação celestial, para que aquilo que é mortal seja absorvido pela vida. Foi Deus que nos preparou para esse propósito, dando-nos o Espírito como garantia do que está por vir. Portanto, temos sempre confiança e sabemos que, enquanto estamos no corpo, estamos longe do Senhor. Porque vivemos por fé, e não pelo que vemos".
(2 Coríntios 5:4-7)
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Vida Cristã
Muito profunda sua reflexão.Creio que o termo "pseudounção" foi muito bem aplicado.Artigo muito bem escrito.Deus vos abençoe!
ResponderExcluirFredão é isso mesmo viu! Que a noiva de Cristo abra os olhos para os excessos e nunca se esqueça que esse é o tempo da metanoia!
ResponderExcluirGod bless you!!!
Microsopicamente falando (Ef 3.8),
pr. Walter Filho
http://blogdowaltim.blogspot.com
Irmão Fred, otimo artigo, muito boa analogia com a obesidade.
ResponderExcluirInfelizmente vejo um movimento de crentes para crentes enquanto o evangelho "PURO E SIMPLES" como você muito bem colocou, esta ficando de lado pelo egoismo de muitos. vamos enfrente com nossa missão. Graça e Paz, irmão Charlenton
Muito esclarecedora essa postagem. Quando comecei meu caminho como evangélica, em algumas igrejas que entrei parecia que estava dentro de um centro de umbanda, a música, o ritmo, as falas gritadas, manifestações, danças rodopiando, e eu lembrava do ministério de Jesus; em nenhuma passagem bíblica eu li que o Senhor Jesus fazia isso. Por que os pastores não conseguem fazer como Jesus fazia, operar como Jesus operava, ensinar como Jesus ensinava? E eu mesma respondo: porque o alvo das igrejas não é o mesmo alvo de Jesus, o alvo das igrejas é encher os templos, e o alvo de Jesus era e é encher o céu. Deus nos abençoe!
ResponderExcluirEi, Fred (Iabadabadú), estou aqui para retribuir a visita ao meu blog. Obrigado mesmo, filho de Deus. Venha quando e sempre que quiser. Quanto ao texto eu preciso fazer algumas observações. Primeiro quero dizer que os legítimos pentecostais, esses que tem um entendimento amadurecido das escrituras, não são a favor de nenhum tipo de artifício como os citados aqui. Lamentavelmente os irmãos neopentecostais não se deixam esclarecer quanto a isto, mas... toalhinhas, e etc., etc.... nada disso tem apoio bíblico e nós pregamos contra isso! Segundo eu diria que sim, tem muita gente que ainda quer o êxtase e a emoção e etc. Elas são como os cristãos judaizantes que chegavam na igreja e tinham dificuldade de aceitar que só a graça era suficiente; cabe a nós discípula-los, mostrando que suas superstições pagãs não tem morada no verdadeiro cristianismo e na real experiência com o Espírito Santo. Terceiro – vai ficar feio, hein?! Kkk – é preciso entender que este padrão de busca do batismo com/no Espírito Santo, onde “se mergulha em orações, jejuns, estudo da palavra e etc., é um padrão dado por Jesus! Foi ele que nos deu este modelo de busca, quando disse que deveríamos pedir, buscar e bater até que o Pai nos desse seu Espírito; foi ele que disse que “ao nos ser tirado o noivo” deveríamos jejuar; foi ele que disse que que existem castas de demônios que só são expelidas pelos que se consagram em jejuns e orações. Quarto, quero dizer que é preciso compreender que por todo o livro de Atos, nos momentos em que se enchiam do Espírito Santo, o falar em línguas e o profetizar eram os primeiros sinais físicos que podiam ser observados nas pessoas; por isso acreditar que as línguas, por exemplo, é um dos primeiros sinais físicos de que alguém foi batizado com/no Espírito Santo, não é heresia. Quinto, amado, separe “alhos dos bugalhos”. Ou seja: Quando o Espírito vem com poder podemos perceber que ele nos traz a capacidade de produzir fruto do espírito sim, e isto à longo prazo; mas no momento de sua descida sobre nós é possível que “coisas estranhas” sejam percebidas. Como ignorar o fato de que os apóstolos e discípulos ficaram parecendo bêbados?! Esta é uma manifestação do Espírito nos moldes do novo testamento! Eles ficaram como bêbados! Você sabe como é um bêbado: Chora, canta, ri... e faz uma série de “tolices”. Sexto: Sabe a estória do “ou é oito ou é oitenta”? Enquanto os irmãos neopentecostais mergulham em um “exagero”, os irmãos como os que chamamos de cessacionistas mergulham também. Pois estes, no intenso desejo de combater o que segundo eles é mal à sã doutrina, chegam as vias de proibir o falar em línguas e de “até apagar o Espírito”. Que Deus nos ajude. Por fim, eu postei uma resposta ao seu comentário em meu texto sobre o dom de línguas. Aparece lá para ler, ok? Obrigado. Fique na graça e na paz de Cristo.
ResponderExcluirP.S.: Desculpe a piada do “iabadabadú”; eu não resisti. :D
Obgd pelo contraditório Vinde (profetinha)...gosto deste saudável debate de ideias que sempre nos enriquece...na multidão de conselho há sabedoria...abundante graça sobre todos nós...
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